domingo, 27 de janeiro de 2019

Pela cerveja sem viés ideológico

Curto & Grosso


JOSÉ TELES
Antigamente se achava que a direita era quase toda de abstêmios. Não se viam direitistas em mesa de bar. Pelo menos nesses bares aos quais todo mundo vai porque todo mundo vai. 

Tem certos botequins onde a cerveja é morna, e o cafezinho é gelado, mesmo assim é tudo entupido de gente. As pessoas se encontram lá porque as pessoas se encontram lá. Já fui num, no interior, bem badalado, que não tem nem cardápio. Nesse dia que bebi nele, o petisco era canudinho de aniversário, uns tais que recheiam com carne moída. Se tem um bregueço que não combina com bebida é canudinho de festa. 

Não creio que a turma esteja lá pelos canudinhos. Mas a cerva estava gelada. Taí uma coisinha que não falta em bar pernambucano, cerveja geladíssima. “Mofada”, diz o garçom, mostrando a tênue camada de gelo que se estende ao longo da garrafa, e servindo a bicha com orgulho. 

Tem até o episódio que aconteceu com um ator global num bar da Zona Norte, destes em que o povo tá lá, porque o povo tá lá. O cara foi levado pro bar e já chegou botando gosto ruim nas cadeiras, que considerou desconfortáveis. Depois reclamou do barulho. Ameaçou ir embora se não fosse logo atendido. 

O dono do bar, tava em pé, por trás do balcão, só escutando os queixumes do freguês ator de novela. Não parecia incomodando com as reclamações. Foi aí que o garçom chegou na mesa do artista, serviu a cerveja, e o cara: “A cerva tá quente”. Aí o dono se arretou. Chegou-se na mesa do ator, que tava com uns amigos daqui do Recife, e falou entre dentes: “Garçom, leva esta de volta, traz outra. Olha aqui macho, se trouxerem alguma quente, você não paga”. Acabaram-se as reclamações. Mas tergiversei sobremaneira. 

Aliás tanto, que precisei reler o texto pra saber o que goitana tava falando. Como dizia, antes de ser interrompido tão abruptamente, pela minha própria pessoa, não se viam direitistas nos bares. Eis que dia desses, num dos estabelecimentos onde confiro temperatura da cerveja, o papo era sobre o fenômeno do partido político sem viés ideológico. 

Nisso, um dos garçons, um dos jovens, aí pelos 23 anos, entrou na conversa: “Pois saibam vocês, que eu sou de direita. Pois é, sou conservador, sempre fui”. Não me boquiabri, porque não me boquiabro mais com nada, desde que o marxismo passou a governar o mundo. O Marx a que me refiro, naturalmente, não é o alemão Karl, mas o americano Groucho. 

Se é que alguém ainda se lembra de Groucho, e os irmãos Chico, Harpo e Zeppo Marx. Pois é, já temos bar com garçons de direita. Só espero que não inventem de ideologizar a cerveja. Tipo, artesanal é de direita, Heineken é de esquerda.

Sr. CARIRI

Nenhum comentário:

Postar um comentário