Foi inacreditável a ação
eleitoral do Jornal Nacional contra a presidente Dilma Rousseff;
William Bonner fez perguntas quilométricas; Patrícia Poeta chegou a
fazer cara de nojo e a colocar o dedo em riste diante de Dilma em razão
do "nada" que teria sido feito na área da saúde em 12 anos, ditos com
ênfase pela apresentadora; Dilma mal teve a oportunidade de responder
perguntas que eram acusações, como sua suposta incapacidade de se cercar
de pessoas honestas e os números da economia; quando teve oportunidade
falar, Dilma disse que seu governo "estruturou o combate à corrupção" e
que "nenhum procurador foi chamado de engavetador-geral da República";
ela lembrou ainda o baixo desemprego e a inflação que se aproxima de
zero nos últimos meses; não foi entrevista, foi agressão, fora de
qualquer padrão civilizado de jornalismo; presidente conseguiu falar
sobre o progama Mais Médicos e informar que a inflação está baixando,
com zero de elevação em julho
247 - Com posturas até então desconhecidas do grande público, os
apresentadores William Bonner e Patrícia Poeta deixaram a elegância de
lado e partiram para o ataque sobre a presidente Dilma Rousseff, na
entrevista ao Jornal Nacional concedida no Palácio da Alvorada, em
Brasília, nesta segunda-feira 18. Ambos estavam vestidos de preto,
indicando luto pela morte do ex-governador Eduardo Campos, cujo último
compromisso eleitoral foi a entrevista da quarta-feira 13. Eles não
dirigiram nenhuma pergunta sobre o fato à presidente.
Bonner parecia o mais irritado, mas Patrícia não quis ficar atrás.
Ela chegou a apontar, em riste, o dedo para a face próxima da
presidente, insistindo que o governo dela e do ex-presidente Lula não
fizeram "nada" na área da saúde. A presidente conseguiu dizer, entre
interrupções da entrevistadora, que hoje, ao contrário do passado, o
atendimento de saúde pública atinge 50 milhões de brasileiros.
No início da entrevista, Bonner perguntou, por mais de um minuto,
sobre "corrupção e malfeitos", citando uma série de ministérios e também
a Petrobras.
- Qual a dificuldade de formar uma equipe de governo com gente
honesta?, questionou ele, mais ao estilo botequim de esquina do que o
que emprega normalmente, todos os dias, à exceção dos domingos, na
bancada do JN. O jogo de apertar a presidente ficou claro desde o
primeiro momento.
A própria Dilma percebeu e não se intimidou com a postura da dupla.
Procurou responder a todas as perguntas e manter a calma, mas não dando
as respostas que Bonner e Patrícia esperavam. Dilma tinha argumentos na
ponta da lingua.
- Fomos o governo que mais estruturou o combate à corrupção e aos malfeitos, respondeu ela.
- Nenhum procurador geral da República foi chamado no meu governo de
engavetador geral da República", acrescentou, numa referência nada sutil
a Geraldo Brindeiro, dos tempos do governo Fernando Henrique.
BONNER NUNCA FIZERA PERGUNTAS TÃO LONGAS E EM TOM TÃO DURO
O âncora do Jornal Nacional insistiu no tema da corrupção, usando cada vez mais ênfase sobre a presidente:
- Um grupo de elite do seu partido foi condenado por corrupção, são
corruptos, posso dizer por que a Justiça já julgou, mas o seu partido
protegeu essas pessoas. O que a sra. acha dessa postura do seu partido?
Dilma não respondeu diretamente, optando por lembrar sua posição institucional:
- Enquanto eu for presidente da República, não externarei opinião
pessoal sobre decisões do Supremo Tribunal Federal. Eu tenho a minha
opinião, mas não vou externá-la.
- Mas o que a sra. diz sobre a postuta do seu partido? A sra. não diz nada?
- Olha, Bonner, eu não vou entrar nisso de me manifestar contra a
decisão de um poder constitucional. Isso é muito delicado, merece o meu
maior respeito.
PATRÍCIA APONTOU O DEDO EM RISTE PARA A PRESIDENTE
Patrícia, que até então estava calada, perguntou sobre saúde,
afirmando que "nada fora feito" nos governo Dilma e Lula, e que "as
filas se multiplicam nos hospitais e postos de saúde". Dilma, outra vez,
procurou responder sem aceitar a indagação como provocação.
Patrícia não gostou do que ouviu, e lá veio Bonner atacar de novo:
- A sra. considera justo culpar ora a crise econômica internacional,
ora os pessimistas pelo baixíssimo crescimento da economia brasileira,
pela inflação alta?
- A inflação cai desde abril, Bonner, agora mesmo saiu um dado
oficial mostrando que houve zero por cento de aumento de preços em
julho. Por outro lado, todos os dados antecedentes ao segundo semestre,
aqueles que anunciam o que vai acontecer na economia, mostram que haverá
crescimento em relação ao primeiro semestre.
Bonner não pareceu satisfeito com a resposta, mas em razão do tamanho
das perguntas que havia feito antes, percebeu que o tempo de 15 minutos
estava estourando. Foram, de fato, questionamentos quilométricos os que
ele fez.
- Eu vou garantir um minuto para a sra. encerrar, disse ele, visivelmente insatisfeito.
- Obrigado, Bonner, eu quero dizer que acredito no Brasil, reiterou
Dilma, que ainda foi mais duas vezes interrompida para que fosse
cumprido o tempo estabelecido.
- Eu compreendo, vou suspender a minha fala, encerrou Dilma, com
classe, diante dos entrevistadores que se mostraram em pleno ataque de
nervos.
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