sexta-feira, 3 de agosto de 2018

PT-PSB, o jogo prático


Tereza Cruvinel


PT-PSB, o jogo prático

No primeiro momento haverá choro e ranger de dentes, gente chateada no PT e no PSB. A militância, hoje, reprova os acordos pragmáticos, mas os dois partidos fizeram o que os outros gostariam de fazer: uma aliança informal, baseada na troca de apoios estaduais, com ganhos bilaterais. Depois desse acordo, depois da aliança do Centrão com Geraldo Alckmin e do consequente isolamento de Marina, Bolsonaro, Ciro Gomes e demais, crescem as chances do irônico retorno da polarização PT-PSDB no segundo turno.  

Aparentemente, o lucro eleitoral do PSB é maior, mas o PT sai da solidão no campo da esquerda e agora tem grande chance de fechar uma coligação formal com o PCdoB, na qual Manuela D’Ávila se tornaria candidata a vice de Lula ou de seu substituto. No domingo, o PSB decidirá pela neutralidade na disputa presidencial, pois racharia se tivesse que escolher entre o PT e Ciro.  Mas as coligações PT-PSB em 11 estados, afora os ganhos regionais, fortalacerão a candidatura presidencial petista, especialmente no Nordeste, onde o lulismo reina.
Ciro Gomes sofre, com esse acordo, uma segunda derrota em sua busca de alianças. Não há mais aliados a disputar nem tempo para repescagem. Seguirá só com o PDT e terá menos de um minuto de tempo de televisão. Bolsonaro ficou isolado em seu micropartido, e Marina conseguiu apenas a aliança com o PV, que lhe dará o vice.
Preço a pagar
O PT pagará um preço pela decisão de sacrificar a candidatura da pernambucana Marília Arraes para apoiar a reeleição do governador do PSB Paulo Câmara. A militância em Pernambuco está indócil, e o mesmo acontece com a do PSB em Minas. Muito vai se falar e escrever sobre o autoritarismo da direção petista com sua decisão vertical. Mas, convenhamos, isso sempre foi assim, e não apenas no PT.  No Maranhão, o PT precisou enquadrar a seção estadual para garantir o apoio à família Sarney nas últimas eleições.  No Rio, fez intervenções para garantir alianças com Brizola e com Garotinho. Não é suave, não é doce, mas é o jogo.
Marília Arraes falava, ontem, que sua candidatura promissora foi entregue “a preço de banana”. A contrapartida de fato não tem o mesmo peso: o ex-prefeito Marcio Lacerda, como candidato a governador de Minas, não pesa na disputa o mesmo que ela pesava na eleição pernambucana, onde ameaçava a reeleição de Câmara. Mas a política não se faz assim, com balança de precisão. O PT carece de melhorar sua posição em Minas, e não apenas para sobreviver, aumentando as chances de reeleição do governador Fernando Pimentel. Com Lacerda fora do páreo, concorrendo ou não ao Senado, a disputa ficará, agora, entre o governador e o tucano Antonio Anastasia. Depois, dificilmente alguém se elege presidente do  Brasil sem ganhar no segundo maior colégio eleitoral.
As bases petistas já criticam o acordo com um “partido golpista”, que apoiou o impeachment de Dilma e integrou inicialmente o governo Temer. Há discurso contra isso: aliado histórico do PT, o PSB seguiu rumo próprio em 2014 ao lançar a candidatura de Eduardo Campos. Naquela fase, recebeu muitas adesões de políticos à sua direita, que depois empurraram o partido para a coalizão do impeachment. Eles deixaram o partido recentemente e o PSB retomou seu lugar no campo da esquerda. 
Não se poderá dizer,  desta vez, que os petistas trataram mais de receber do que de dar apoio. O PT apoiará candidatos do PSB em Pernambuco, Amazonas, Sergipe, Amapá, Roraima e Paraíba. O PSB apoiará candidatos petistas em Minas, Bahia, Ceará e Acre. Juntos, apoiarão Flávio Dino, do PCdoB, no Maranhão. Se o PSB ganha mais nos estados, com o acordo o PT se reposiciona na disputa, adquirindo novo sentido de agregação. Acredito, inclusive, que se tornou mais provável uma aliança com o PCdoB, que pode ser firmada até o dia 15, embora Manuela D’Ávila tenha sido crismada candidata ontem.


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