Ninão é um apelido adequado
para Joelison Fernandes da Silva e seus 2,37 metros de altura. O gigante
da pequena Assunção, cidade de 3,5 mil habitantes no Cariri paraibano,
vive de sua extensão. Ou vivia. Garoto-propaganda de lojas da região e
personagem frequente em programas de tevê (ele cobra cachês por suas
aparições), Ninão foi atingido em cheio pela crise econômica. Os
trabalhos e os convites rarearam nos últimos tempos.
Emprego de carteira assinada ele nunca teve. Com mais de 200 quilos,
diz não ter condições físicas de encarar uma rotina. “Sou muito pesado,
não posso fazer as coisas de maneira rápida, como todo mundo. Também não
posso ficar em pé por muito tempo.” As limitações são reprovadas pelos
possíveis contratantes. “Querem que eu fique três horas em pé,
fotografando e atendendo os clientes. Vontade não falta, mas meu corpo
não aguenta. Sento cinco minutos, fico dez em pé. Tem de ser assim.” Em
poucos minutos sua respiração fica ofegante. A camiseta encharca de
suor.
Apesar das dificuldades físicas, os negócios andavam bem. O último
contrato fixo de garoto-propaganda acabou, porém, na metade de 2014. Uma
rede de supermercados o exibia como atração nas lojas em 22 cidades da
Paraíba. Além disso, Ninão participava mensalmente de seis a oito
eventos em troca de um cachê médio de 2 mil reais.
A coisa mudou desde então. “As empresas cortaram gastos.
Infelizmente, a verba de marketing é a primeira a cair. Pararam de me
chamar.” Ninão fez apenas duas inaugurações neste ano. Em abril esteve
em Itaúna, Minas Gerais, e em julho visitou a paraibana Gurjão. Uma tevê
alemã pagou 3 mil reais por uma entrevista. Foi só. Nada mais pingou em
sua horta.
Ninão sofre de acromegalia, popularmente chamada de gigantismo. Ele
desenvolveu um tumor benigno na hipófise, que liberou excesso de
hormônio de crescimento. Só em 2007 a família conseguiu convencê-lo a se
tratar. A operação removeu parte do tumor. Atualmente, controla com
medicamentos a doença, que provoca também uma expansão da mandíbula,
mãos e pés.
A vida não é fácil. Roupas e calçados são feitos por encomenda. Ninão
tem seis pares de tênis confeccionados especialmente para ele, em 2007,
por uma marca esportiva. É com esses que se vira até hoje. “Estão
batidos, mas não tenho onde comprar tênis, nem se quisesse. Não há
número 60 à venda”, resigna-se.
O gigante de Assunção não pode sentar em qualquer lugar antes de
avaliar primeiro a cadeira. Perdeu as contas de quantas vezes foi ao
chão. Ter um carro é outro entrave. O Meriva, que no mercado é
considerado espaçoso, fica apertado mesmo com o banco do motorista no
limite da regulagem.
Apesar disso, a estatura que o levou à reclusão do quarto na
adolescência por causa do bullying hoje joga a seu favor. O jeitão de
ogro se desfaz no primeiro contato com o “Gigante gentil”, como é
chamado na Paraíba. A voz grave, porém doce, reconforta. Na cidade
natal, Ninão é mais do que popular. É uma celebridade. A fama o
estimulou a tentar ingressar na política. Em 2012, foi convencido a ser
candidato a vice-prefeito. Aprendeu nas urnas que nem sempre basta
popularidade. “Cedi à influência dos outros, mas política não é para
mim.”
O sucesso de Ninão espalha-se pela Paraíba. A cada visita ao Hospital
Universitário em Campina Grande, os corredores da instituição entram em
ebulição. Brotam de todos os lados funcionários e pacientes com
celulares em busca de uma “selfie” com Ninão. Ele só escapa da tietagem
quando a porta do consultório é fechada.
O ano passado foi especial. Ninão casou-se em 18 de maio com Evem
Medeiros, de 1,52 metro, ao vivo no palco do Domingo Legal, do SBT. Do
programa recebeu 30 mil reais para construir uma casa, erguida no mesmo
terreno onde vivem seus pais. A residência, que qualquer morador de
Assunção sabe onde fica, tem pé-direito de 4 metros, portas de 2,5
metros e janelas que só o morador pode alcançar para abrir e fechar sem o
auxílio de uma escada.
Educado e sempre solícito, Ninão passa a maior parte dos dias sentado
na sala de casa ou deitado. A rotina é cortada pela chegada de
visitantes que sem-cerimônia batem à porta para conhecê-lo e, claro,
tirar fotos. Esse tipo de “turismo” não lhe rende nenhum centavo. Silva
espera por melhores dias. No momento, ele é uma metáfora do Brasil. Um
gigante adormecido.
Sr. CARIRI
Carta Capital
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