Nova política de flutuação de preços da Petrobras confunde os consumidores, derruba as vendas e preocupa os comerciantes
Dona de restaurante, Érica usa gás na churrasqueira, no fogão e na chapa |
A nova política de flutuação de
preços do gás de cozinha imposta pela petrobras preocupa revendedores locais e
confunde consumidores. de acordo com os empresários, desde que o reajuste do
produto passou a ser mensal, o valor disparou e as vendas caíram. em três
meses, o aumento acumulado soma 8,93% — foram duas variações positivas e uma
negativa. a associação brasiliense de empresas de gás (abrasgás) critica a
mudança de precificação feita pela estatal, alegando que gera falências no
setor e crescimento do comércio clandestino de botijões. a entidade estuda as
medidas judiciais cabíveis. enquanto isso, o consumidor já encontra unidades
sendo vendidas a r$ 80 no distrito federal.
Desde junho, a petrobras passou a
corrigir mensalmente o valor do gás liquefeito de petróleo, o glp-p13,
conhecido como gás de cozinha ou doméstico todo dia 5 do mês. o preço final
passou a levar em conta as cotações no mercado internacional. até maio de 2017,
a estatal adotava uma política que evitava o repasse da volatilidade do câmbio
e das cotações internacionais no mercado interno. por isso, geralmente,
fazia-se uma correção anual. na ocasião do anúncio da flutuação, o presidente
da companhia, pedro parente, ressaltou que o gás não tinha uma política de
comercialização definida e que, com a alteração, a petrobras completava “o
ciclo de definição de políticas para os produtos da companhia”.
Lucas Mendes dirige da Asa Norte ao Cruzeiro para trocar os vasilhames |
Dificuldade
Acostumados
a trabalhar com uma variação anual, os revendedores estão com dificuldades de
se adequar à nova política de preços da estatal. a crítica é a de que a mudança
foi muito repentina. o empresário wellington marques tem uma revenda no
cruzeiro e está no segmento há 20 anos. ele conta que a mudança da petrobras
pegou os revendedores de surpresa. “avisam um dia antes qual será o preço novo.
eu não tenho tempo nem de comunicar os consumidores. quando o cliente chega,
leva o susto. por isso, poderiam, ao menos, informar o índice do repasse 10
dias antes”, sugere. wellington explica que, por causa da regulação, ele não
pode estocar mais que 480 vasilhames no depósito, o que o deixa somente com a
quantidade que vai vender. “com o estoque regulado, quando o preço muda, eu
tenho que repassar ao consumidor imediatamente.”
Proprietária
de revendas no distrito federal e no entorno goiano, Veruska Moura contabiliza
queda de 30% no de vendas desde a implementação da nova política de preços. “o
consumidor não aceita esses repasses e as empresas regularizadas não dão conta
de segurar. muita gente está fechando as portas. não posso dar a minha palavra
nas negociações. a gente está volume sendo massacrado”, comenta.
Para
calcular o impacto da nova política da petrobras, a abrasgás está fazendo um
levantamento de quantas empresas fecharam as portas por causa da flutuação de
preços. “tivemos mais revendas falindo em 90 dias do que nos últimos dois
anos”, alerta cyntia moura santo, diretora da abrasgás. “aliado a isso, estamos
assistindo à proliferação do mercado clandestino: o revendedor não consegue
manter custos fixos, aí fecha as portas e, para não ficar sem trabalho, vai
pirangar na rua. fora aqueles que vendem o botijão adulterado”.
Questionada
sobre as críticas dos revendedores em relação à política de flutuação de
preços, a petrobras respondeu que só tem ingerência em 54% da composição do
preço do botijão. “sendo as distribuidoras e revendedoras livres para definirem
as margens praticadas”, diz, em nota. quanto ao aumento da comercialização
clandestina, a estatal ressalta que a fiscalização é de competência da agência
nacional do petróleo (anp).
Os
valores do glp para uso comercial ou industrial (vendido a granel ou envasado
em botijões de mais de 13kg) também passaram a ser reajustados de acordo com a
flutuação no mercado internacional, o que significa que as alterações nos
preços podem ser feitas a qualquer momento. o último reajuste, em vigência
desde 16 de agosto, aumentou os preços de comercialização às distribuidoras do
glp em 7,2%. a flutuação dos valores, no entanto, suscita críticas entre
revendedores e clientes.
Érica Vanessa Tenório, 37 anos, é dona de um restaurante no cruzeiro e diz que passou
a colocar os custos na ponta do lápis. “diminuí o uso de água e passei a
comprar artigos de limpeza mais baratos para contrabalançar os gastos”, relata.
para manter o self-service, ela consome até dois botijões por dia. “uso gás na
churrasqueira, no fogão e na chapa”, enumera. Érica conta que desembolsou r$
744 em junho. para agosto, a empresária espera pagar, no mínimo, r$ 800.
Análise da notícia
Defasagem
» Simone Kafruni
Durante os governos petistas, o preço dos combustíveis
foi controlado pela petrobras para segurar, artificialmente, os índices de
inflação. tal prática gerou prejuízos de us$ 40 bilhões à petroleira por conta
da defasagem entre o valor que pagava no mercado internacional e o preço pelo
qual revendia no país. ao assumir a estatal, pedro parente zerou essa
perda e implementou avaliações mensais para reajustar os preços conforme a
oscilação do barril de petróleo. em junho, mudou a sistemática com base na
variação diária da commodity e do câmbio. a nova política permite à petrobras
reajustar a gasolina, o diesel e também o gás de cozinha todos os dias.
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