Foram 4 demissões em cargos dos mais relevantes do governo em apenas 6 dias. Na 3ª feira (11.jun), o general Franklimberg Freitas, da presidência da Funai. Na 5ª, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo. Na 6ª, o general Juarez Cunha, presidente dos Correios. No domingo, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pediu para deixar o cargo depois de receber uma descompostura pública de Jair Bolsonaro.
Todos esses personagens têm algo em comum: divergiram, em maior ou menor grau, das orientações do presidente a partir de promessas que ele fez ainda em campanha ou determinações feitas nos primeiros dias no cargo.
Não cabe aqui uma exegese de cada 1 dos casos. Mas é necessário dizer que nenhuma das divergências foi feita de forma clandestina. Os dirigentes argumentaram que não era possível cumprir as determinações e propuseram alternativas. Se elas eram vantajosas para o governo ou não é outra história.
O fato é que Bolsonaro não gosta de divergências internas. Se alguém tinha alguma dúvida quanto a isso, é melhor deixá-la lado de ter depois desse ciclo de demissões.
Rompeu-se até mesmo com um cânone do meio militar: a obrigação que o oficial tem de se perceber algo que considera errado, apontá-lo ao superior de forma leal. Muitas das contestações de Santos Cruz foram nessa linha. E não foram bem-vindas.
Do ponto de vista do governo, há uma vantagem no enquadramento: convergir as decisões para a linha esperada, reduzindo a necessidade de controle e de retrabalho. O lado negativo é criar insegurança nos gestores. Ninguém vai ousar fazer algo que lhe pareça correto, mas que traga risco de erro e punição.
O governo já não é um lugar muito fácil para quem tem cargos de liderança: há sempre a possibilidade de quem assina decisões fazer tudo certo e mesmo assim vir a ser questionado por órgãos de controle, colocando em risco, muitas vezes, o patrimônio pessoal. Agora, fica ainda menos atraente ocupar cargos de comando. Ou, no caso de ocupar, optar pela inovação, que é intrinsicamente ligada a riscos.
Outro problema é o inverso desse: a pessoa em cargo de confiança ter a ousadia de avisar o superior de que uma decisão pode estar errada. O ex-ministro Maílson da Nóbrega alertou, em entrevista ao Drive, para o fato de que muitas ações do governo, incluindo projetos de lei, sugerem a falta de filtros que costumavam ser muito eficientes na máquina pública.
Não há dúvidas de que o país tem hoje no Planalto um estilo de governo muito diferente de todos anteriores, até onde a observação histórica pode alcançar. A tradição da política sugere que isso embute mais riscos do que vantagens. Sim, pode-se argumentar que é uma avaliação que tem por base o passado.
Sr. CARIRI -
Fonte - Poder 360
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