ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
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O cantor Jerry Adriani morreu às 15h30 de domingo (23), aos 70 anos, no Rio de Janeiro. Ídolo da Jovem Guarda, o movimento musical que revolucionou a cultura jovem brasileira na segunda metade da década de 1960, Jerry enfrentava um câncer e estava internado no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, Zona Oeste. A família não deu maiores informações sobre o tipo de câncer de que sofria o cantor.
O velório começa às 8h de segunda (24), no Cemitério São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro, e o enterro está marcado para as 16h30.
Na segunda (10), a família de Adriani divulgou uma mensagem pedindo apoio aos fãs: "Independentemente de seus credos, solicitem força e pronto restabelecimento ao querido amigo e cantor."
Ele foi internado pela primeira vez em março para tratar de uma trombose venosa profunda. Duas semanas após receber alta, teve de voltar por conta do câncer, que acabara de ser descoberto.
Segundo o site oficial do cantor, ele tinha 11 shows agendados até dezembro. O próximo seria na sexta (28) em um evento fechado em Campinas.
Em seus últimos dias, Jerry recebeu visitas e mensagens de apoio de vários colegas da época da Jovem Guarda, como Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderley Cardoso.
ITALIANO
Nascido Jair Alves de Souza, em 29 de janeiro de 1947, no bairro do Brás, em São Paulo, era neto de calabreses e ouvia música italiana desde pequeno. Em 1964, com o nome artístico de Jerry Adriani, lançou seu primeiro LP, "Italianíssimo", com sucessos do pop romântico italiano. No ano seguinte lançou seu primeiro disco com músicas em português, "Um Grande Amor", seguido de outro LP dedicado ao pop italiano, "Credi a Me".
Com a estreia do programa de TV "Jovem Guarda", em agosto de 1965, na TV Record de São Paulo, um sucesso tão estrondoso que daria nome ao primeiro movimento musical brasileiro dedicado à música jovem, Jerry deixou de lado a música italiana e passou a lançar só discos em português. Tinha uma voz bonita e potente e visual de galã, com um topete rockabilly, e disputou a preferência das plateias femininas com ídolos como Roberto Carlos e Ronnie Von.
Em 1965, apresentou o programa "Excelsior a Go Go" na TV Excelsior de São Paulo. Entre 1967 e 1968 foi um dos apresentadores do programa "A Grande Parada", da TV Tupi, concorrente do "Jovem Guarda", um musical ao vivo.
No início dos anos 1970, seu visual emulava o de Elvis Presley, com direito até a costeletas (Jerry amava Elvis, a quem homenagearia num disco de 1990, "Elvis Vive"). O som havia mudado também, do pop inocente do início da Jovem Guarda para um rock mais pesado e influências de música soul norte-americana.
Além de cantar e apresentar programas de TV, Jerry se arriscou também no cinema. Atuou e cantou em três filmes, "Essa Gatinha É Minha" (1966) e "Jerry, A Grande Parada" (1967), ambos dirigidos por Jece Valadão, e "Em Busca do Tesouro" (1967), de Herbert Richers. Jerry era tão famoso que não interpretava um personagem fictício. Interpretava Jerry Adriani.
RAUL SEIXAS
No fim dos anos 1960, apresentou-se na Bahia e conheceu um ótimo grupo de rock, que acabou levando para São Paulo como sua banda de apoio. Era Raulzito e os Panteras, liderado por um artista que se tornaria ídolo da música brasileira e um dos maiores amigos de Jerry: Raul Seixas. Foi Jerry quem convenceu a gravadora CBS a empregar Raul como produtor. Raul foi produtor de Jerry entre 1969 e 1971, antes de iniciar sua própria carreira de intérprete. Jerry gravou diversas músicas de Raul, como "Tarde Demais" e "Doce Doce Amor".
A carreira de Jerry Adriani sempre foi dividida entre suas duas paixões, o rock e a música italiana. Em 1999, ele juntou as duas no disco "Forza Sempre", em que gravou versões de músicas de Legião Urbana em italiano. O disco foi um sucesso e vendeu cerca de 200 mil cópias. Jerry deixa três filhos, um neto, a companheira Ceila Passos e várias gerações de fãs.
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