sábado, 8 de outubro de 2016

Passada eleição municipal, partidos preparam disputa presidencial

Pelo menos nove siglas projetam candidatos competitivos em 2018

Encarado como prévia da corrida presidencial, o resultado das eleições municipais encoraja novas candidaturas ao Planalto. Pelo menos nove partidos, de nanicos a grandes, sonham com nomes competitivos para 2018. Além de PT e PSDB, rivais desde 1994, legendas que não lançaram candidato em 2014, como PMDB, PDT e DEM, planejam voo solo, mesma intenção de Rede, PSB, PSC e PSOL. O leque ampliado se deve a um quadro com crise econômica, falta de lideranças e descrença na política, refletido nos altos índices de abstenções e votos nulos e brancos neste ano. As novas delações da Operação Lava-Jato, a exemplo da Odebrecht, também tumultuam o cenário.

— Muitos atores podem cair com a Lava-Jato. Quem hoje está forte, pode ser derrubado. A eleição é uma incógnita — afirma o ex-deputado Beto Albuquerque (RS), que tem o nome à disposição do PSB para 2018.

Professora da Universidade Federal de Minas Gerais, a cientista política Helcimara Telles afirma que o pleito de 2016, com a política questionada e o PT desgastado, abriu espaço para o discurso do gestor, usado com sucesso por João Doria (PSDB), eleito em São Paulo.
— Apesar de falar que não é político, Doria usou a estrutura da política tradicional, em um grande partido, com tempo de TV e máquina. O cenário atual cria possibilidade de 2018 ser a eleição mais fragmentada desde 1989, que teve 22 candidatos — avalia.
Partido que recebeu maior número de votos em todo o país, o PSDB larga em vantagem. Conquistou São Paulo e está no segundo turno em oito capitais. Apesar da força, os próprios tucanos admitem que é cedo para projeções muito otimistas. Antes, será preciso unir os caciques. Fortalecido pela vitória de Doria, o governador paulista, Geraldo Alckmin, vai disputar a indicação ao Planalto com Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), opções que podem levar o partido a ter prévias.
— Quem chegar em melhores condições deve ser o candidato. Ninguém pode ser um candidato porque resolveu ser candidato — afirmou Aécio.
Sem representante próprio desde 1994, o PMDB tem dificuldade para escolher nomes. A derrota no Rio esfriou Eduardo Paes, enquanto o presidente Michel Temer só admitirá a possibilidade de concorrer caso sua popularidade cresça. No momento, a legenda aposta no fato de ser o partido com mais prefeitos no país.
— Como surgiram novos partidos, seria natural perdermos prefeituras. O fato de ficarmos estáveis solidifica a condição de ter candidato competitivo — analisa o deputado Baleia Rossi (SP), líder da bancada na Câmara.

Entre as siglas de esquerda, o PDT terá concorrente depois de 12 anos, com Ciro Gomes. A dúvida é a posição do PT, que perdeu mais da metade dos votos de 2012 para 2016. Caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fique de fora em razão da Lava-Jato, poderia apoiar Ciro.
— O PT vai fazer uma avaliação interna. O resultado atual foi ruim, mas ocorreu em um ambiente de golpe, com o PT criminalizado — argumenta o deputado Henrique Fontana (PT-RS).

Os cenários por partido

PMDB: manteve condição de partido com maior número de prefeituras no país (1.028) e foi o segundo mais votado (14 milhões de votos). Garante que terá representante, mas sabe que o sucesso depende da melhora na avaliação do governo Temer. Derrotado no Rio, onde seu candidato ficou em terceiro, o atual prefeito, Eduardo Paes, perdeu espaço.
PT: perdeu mais da metade dos votos de 2012. Lula é o nome para tentar a quinta vitória seguida na corrida presidencial, mas antes precisa sobreviver à Lava-Jato. Jaques Wagner é opção. Não se descarta apoiar candidato de outro partido de esquerda. O PT discute uma reformulação.
PDT e PTB: com Ciro Gomes, o PDT pretende se lançar como alternativa pela esquerda. Em 2016, o partido teve mais de 6 milhões de votos, desempenho próximo ao do PT. O PTB também fala em candidatura. Delator do mensalão, Roberto Jefferson (RJ) é opção.
PSB: discute lançar candidato, apesar da ausência de nomes com a força de Eduardo Campos (PE) ou Marina Silva (AC). Beto Albuquerque (RS)e o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, são opções. Especula-se uma eventual migração de Geraldo Alckmin (SP) caso ele não seja o escolhido do PSDB.
PSD, PP e PR: partidos com bancadas robustas no Congresso, aumentaram o número de prefeituras administradas no país, porém não ensaiam candidaturas próprias ao Planalto. O PSD, liderado por Gilberto Kassab (SP), planeja indicar o vice de uma chapa para 2018.
DEM: avalia lançar candidato ou indicar o vice de uma chapa. O favorito é o senador Ronaldo Caiado (GO), que não precisa tentar reeleição em 2018, pois estará no meio do mandato. Em 2016, a sigla teve a reeleição em primeiro turno do prefeito de Salvador, ACM Neto.
Rede: O partido teve menos de 1 milhão de votos no país. Com pouco tempo de TV e fundo partidário reduzido, elegeu cinco prefeitos e está no segundo turno em Macapá. Para 2018, Marina Silva (AC) deve concorrer ao Planalto pela terceira vez — recebeu 22,1 milhões de votos em 2014, ficando em terceiro.
PSOL: depois de colocar Marcelo Freixo no segundo turno do Rio, o partido quer ampliar bancadas nas Assembleias e no Congresso. Avalia um nome para manter a tradição de ter candidato ao Planalto — Heloísa Helena (2006), Plínio Arruda (2010) e Luciana Genro (2014).
PSDB: derrotado nas últimas quatro eleições presidenciais, foi o campeão de votos em 2016: 17 milhões. Três caciques querem concorrer. Com a vitória de João Doria em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin fica fortalecido. Aécio Neves (MG) segue com chances e José Serra (SP) perdeu espaço.
PSC: acena com a candidatura de Jair Bolsonaro (RJ). O deputado de extrema-direita deixou o PP e se filiou ao partido com essa intenção. Filho do parlamentar, Flavio Bolsonaro teve 14% dos votos para prefeitura do Rio de Janeiro. Seria um indicativo do potencial do deputado em grandes cidades.

 

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