Pelo menos nove siglas projetam candidatos competitivos em 2018
Encarado como prévia da corrida presidencial, o resultado das eleições municipais encoraja novas candidaturas ao Planalto. Pelo menos nove partidos, de nanicos a grandes, sonham com nomes competitivos para 2018. Além de PT e PSDB, rivais desde 1994, legendas que não lançaram candidato em 2014, como PMDB, PDT e DEM, planejam voo solo, mesma intenção de Rede, PSB, PSC e PSOL. O leque ampliado se deve a um quadro com crise econômica, falta de lideranças e descrença na política, refletido nos altos índices de abstenções e votos nulos e brancos neste ano. As novas delações da Operação Lava-Jato, a exemplo da Odebrecht, também tumultuam o cenário.
—
Muitos atores podem cair com a Lava-Jato. Quem hoje está forte, pode
ser derrubado. A eleição é uma incógnita — afirma o ex-deputado Beto
Albuquerque (RS), que tem o nome à disposição do PSB para 2018.
Professora
da Universidade Federal de Minas Gerais, a cientista política Helcimara
Telles afirma que o pleito de 2016, com a política questionada e o PT
desgastado, abriu espaço para o discurso do gestor, usado com sucesso
por João Doria (PSDB), eleito em São Paulo.
— Apesar de falar
que não é político, Doria usou a estrutura da política tradicional, em
um grande partido, com tempo de TV e máquina. O cenário atual cria
possibilidade de 2018 ser a eleição mais fragmentada desde 1989, que
teve 22 candidatos — avalia.
Partido que recebeu maior número de
votos em todo o país, o PSDB larga em vantagem. Conquistou São Paulo e
está no segundo turno em oito capitais. Apesar da força, os próprios
tucanos admitem que é cedo para projeções muito otimistas. Antes, será
preciso unir os caciques. Fortalecido pela vitória de Doria, o
governador paulista, Geraldo Alckmin, vai disputar a indicação ao
Planalto com Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), opções que podem levar o
partido a ter prévias.
— Quem chegar em melhores condições deve
ser o candidato. Ninguém pode ser um candidato porque resolveu ser
candidato — afirmou Aécio.
Sem representante próprio desde 1994, o
PMDB tem dificuldade para escolher nomes. A derrota no Rio esfriou
Eduardo Paes, enquanto o presidente Michel Temer só admitirá a
possibilidade de concorrer caso sua popularidade cresça. No momento, a
legenda aposta no fato de ser o partido com mais prefeitos no país.
—
Como surgiram novos partidos, seria natural perdermos prefeituras. O
fato de ficarmos estáveis solidifica a condição de ter candidato
competitivo — analisa o deputado Baleia Rossi (SP), líder da bancada na
Câmara.
Entre as siglas de esquerda, o PDT terá concorrente depois de 12 anos, com Ciro Gomes. A dúvida é a posição do PT, que perdeu mais da metade dos votos de 2012 para 2016. Caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fique de fora em razão da Lava-Jato, poderia apoiar Ciro.
— O PT
vai fazer uma avaliação interna. O resultado atual foi ruim, mas ocorreu
em um ambiente de golpe, com o PT criminalizado — argumenta o deputado
Henrique Fontana (PT-RS).
Os cenários por partido
PMDB:
manteve condição de partido com maior número de prefeituras no país
(1.028) e foi o segundo mais votado (14 milhões de votos). Garante que
terá representante, mas sabe que o sucesso depende da melhora na
avaliação do governo Temer. Derrotado no Rio, onde seu candidato ficou
em terceiro, o atual prefeito, Eduardo Paes, perdeu espaço.
PT: perdeu
mais da metade dos votos de 2012. Lula é o nome para tentar a quinta
vitória seguida na corrida presidencial, mas antes precisa sobreviver à
Lava-Jato. Jaques Wagner é opção. Não se descarta apoiar candidato de
outro partido de esquerda. O PT discute uma reformulação.
PDT e PTB: com
Ciro Gomes, o PDT pretende se lançar como alternativa pela esquerda. Em
2016, o partido teve mais de 6 milhões de votos, desempenho próximo ao
do PT. O PTB também fala em candidatura. Delator do mensalão, Roberto
Jefferson (RJ) é opção.
PSB: discute lançar candidato,
apesar da ausência de nomes com a força de Eduardo Campos (PE) ou Marina
Silva (AC). Beto Albuquerque (RS)e o governador da Paraíba, Ricardo
Coutinho, são opções. Especula-se uma eventual migração de Geraldo
Alckmin (SP) caso ele não seja o escolhido do PSDB.
PSD, PP e PR:
partidos com bancadas robustas no Congresso, aumentaram o número de
prefeituras administradas no país, porém não ensaiam candidaturas
próprias ao Planalto. O PSD, liderado por Gilberto Kassab (SP), planeja
indicar o vice de uma chapa para 2018.
DEM: avalia lançar
candidato ou indicar o vice de uma chapa. O favorito é o senador Ronaldo
Caiado (GO), que não precisa tentar reeleição em 2018, pois estará no
meio do mandato. Em 2016, a sigla teve a reeleição em primeiro turno do
prefeito de Salvador, ACM Neto.
Rede: O partido teve menos
de 1 milhão de votos no país. Com pouco tempo de TV e fundo partidário
reduzido, elegeu cinco prefeitos e está no segundo turno em Macapá. Para
2018, Marina Silva (AC) deve concorrer ao Planalto pela terceira vez —
recebeu 22,1 milhões de votos em 2014, ficando em terceiro.
PSOL: depois
de colocar Marcelo Freixo no segundo turno do Rio, o partido quer
ampliar bancadas nas Assembleias e no Congresso. Avalia um nome para
manter a tradição de ter candidato ao Planalto — Heloísa Helena (2006),
Plínio Arruda (2010) e Luciana Genro (2014).
PSDB:
derrotado nas últimas quatro eleições presidenciais, foi o campeão de
votos em 2016: 17 milhões. Três caciques querem concorrer. Com a vitória
de João Doria em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin fica
fortalecido. Aécio Neves (MG) segue com chances e José Serra (SP) perdeu
espaço.
PSC: acena com a candidatura de Jair Bolsonaro
(RJ). O deputado de extrema-direita deixou o PP e se filiou ao partido
com essa intenção. Filho do parlamentar, Flavio Bolsonaro teve 14% dos
votos para prefeitura do Rio de Janeiro. Seria um indicativo do
potencial do deputado em grandes cidades.
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