quarta-feira, 14 de maio de 2014

Jacinto Silva ganha livro sobre sua vida e obra

Autor mostra que biografado não imitava Jackson do Pandeiro.










Jacinto Silva foi um dos grandes do forró, formou na terceira geração, logo em seguida à que deu Dominguinhos, Zito Borborema, Jackson do Pandeiro, entre outros. Seguiu a linha de Jackson, mas se ateve aos gêneros e subgêneros nordestinos, não se aventurou pelo samba e nem pelo brega, como acontece, por exemplo, com Ary Lobo, Osvaldo Oliveira ou Eulino Julião.

Meio cult no final da vida (faleceu em 2001, em consequência de uma esquistossomose), Jacinto só agora ganha um livro sobre sua trajetória musical (com uma biografia sucinta), Jacinto Silva - As canções (Imprensa Oficial Graciliano Ramos), organizado pelo professor alagoano Luciano José. A biografia foi escrita em forma de cronologia e as canções divididas por época, com notas de rodapé bastante com bastante informações sobre cada uma delas. Ficaria melhor se as notas tivessem mais destaque do que as letras. A música de Jacinto é impregnada de cultura popular nordestina, com muito de embolada e cantoria de viola.

Nascido em Canudos (hoje Belém), interior alagoano, em 1933, Jacinto Silva começou a cantar em rádios de Maceió, foi para Caruaru e de lá para o Recife, onde gravou o primeiro 78 rotações, em 1962, pela Rozenblit. Tocou num trio com o sanfoneiro camarão e Raimundo Peba, o Trio Nortista. Ainda contratado da Rozenblit, assinou com a CBS (atual Sony Music), o que resultou numa querela jurídica que atrasou o lançamento do primeiro álbum pela gravadora com sede no Rio. Jacinto Silva não chegou a emplacar um grande sucesso nacional. Sua base até o final da vida foi o Norte e Nordeste.

Com a saída do forró do horário nobre das emissoras de rádio a partir de meados nos anos 1970, ele amargou um período de ostracismo, do qual começou a sair quando foi redescoberto pelo músico e produtor Zé da Flauta, e em seguida por Silvério Pessoa, como disco Bate o mancá (2000), que tem repertório pinçado da obra do cantor alagoano. 

Mais do que Jackson do Pandeiro, Jacinto Silva foi coquista original e dos melhores. Seus cocos trava-línguas são antológicos e já aparecem no começo de sua carreira, feito o Coco trocado, gravado em 1963, ou o Coco do M (Zé do Brejo & Jacinto Silva), de 1965. O autor na nota de rodapé lembra de outros parecidos, como o Coco do F, gravado pelo também alagoano Luiz Wanderley, o Coco do P lançado por Anastácia (de João do Vale e Luis Vieira), e o Coco do B, gravado por Bezerra da Silva (dele e Jorge Garcia) 

No prefácio, o escritor Marcos de Farias Costa procura desfazer o equívoco de se considerar Jacinto como um imitador de Jackson: “No ano de 1953, data do surgimento de Jackson do Pandeiro em âmbito nacional, com as músicas forró em Limoeiro (Edgar Ferreira) e Sebastiana (Rosil Cavalcanti), Jacinto já possuía 20 anos e informação suficiente que lhe garantia se especializar na cantoria de coco. Ter descoberto Jackson naquela época foi uma agradável surpresa para o desenvolvimento de sua carreira como compositor e intérprete”.
E Jacinto emendaria: “Mestre Matoso, morador, Mendes, Medeiros/ morava em Monteiro, milho mole, mugunzá/ malicioso, Mungangueiro, macumbeiro/ esse meu coco é maneiro/ mas é ruim de cantar”.

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