Na terça-feira (5), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) publicou em sua conta no Twitter um vídeo considerado como conteúdo adulto.
Numa cena do carnaval paulista, um homem dança em cima de um ponto de ônibus. A certa altura, introduz o dedo no ânus. Um segundo rapaz, então, urina na cabeça do que dançava.
Bolsonaro usa na publicação uma estratégia conhecida como “exemplar saliente”, comum em tentativas de difamação.
Na definição de George Lakoff, professor aposentado de Ciências Cognitivas e Linguística na Universidade da Califórnia em Berkeley, exemplar saliente é um caso fora da curva, geralmente raro e negativo, usado de forma sensacionalista como representativo de todo um grupo social.
Ao escrever “é isto que tem [sic] virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro”, Bolsonaro sugere essa intenção. A reportagem da Folha de S. Paulo conversou com pessoas que testemunharam a cena no cortejo do bloco Blocu, no centro da capital paulista. O jornal afirma que os entrevistados descrevem o momento como “isolado no evento”.
Na quarta-feira (6), Bolsonaro seguiu alimentando a polêmica no Twitter:
Lakoff classifica a estratégia dos exemplares salientes como parte do método do discurso de ódio – uso da linguagem para difamar, depreciar ou desumanizar uma classe ou grupo de pessoas atribuindo-lhes certas propriedades inerentes.
“Exemplos típicos são imoralidade, inferioridade intelectual, criminalidade, falta de patriotismo, preguiça, falta de confiança, ganância e tentativas ou ameaças de dominar seus ‘superiores naturais'”, escreve Lakoff.
Os exemplares salientes são, assim, usados para julgar, muitas vezes de maneira precipitada, o restante do grupo. É uma estratégia de manipulação, conforme define Lakoff em artigo conjunto com Gil Duran no Guardian.
O texto do jornal britânico foca no uso da linguagem pelo presidente americano Donald Trump. “Ele é um mestre em difamar grupos inteiros de pessoas como mentirosos, estupradores, terroristas – ou, no caso das agências policiais e de inteligência dos EUA – agentes da corrupção.”
Não é a primeira vez que a estratégia é usada no Brasil. Durante as manifestações #EleNão em repúdio ao então candidato Bolsonaro, em setembro do ano passado, casos de nudez feminina nos protestos foram apresentados por perfis conservadores como evidências da “depravação” do movimento. E, no terreno da Educação, o Escola Sem Partido tenta provar, por meio de denúncias de aulas e outros momentos da vida escolar, que estaria em curso um amplo processo de doutrinação nas redes pública e particular. O site do movimento apresenta algumas dezenas de depoimentos e vídeos. O Brasil tem cerca de 48 milhões de estudantes.
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