Por Sabine Righetti
Quem trabalha com educação sabe que os espaços não formais de aprendizado, como museus, são essenciais para a cultura e o desenvolvimento de uma região. Pois bem. Na tarde desta segunda-feira (21) perdemos, pelo menos até segunda ordem, um dos principais espaços educativos do país, o Museu da Língua Portuguesa, na Luz, centro de São Paulo.
O museu foi tomado por um incêndio de grandes proporções. Ainda não se sabe o tamanho da tragédia, mas o terceiro andar do prédio –que é tombado pelo patrimônio histórico– está destruído. O espaço ficará fechado bem agora, no período de férias escolares.
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Museus e outros espaços não formais de educação andam de mãos dadas com o desenvolvimento cultural e educacional de uma sociedade. Eles instigam as pessoas. No caso do Museu da Língua Portuguesa, os visitantes passam a conhecer mais sobre a origem da nossa língua e sobre alguns autores específicos (a exposição temporária atual é sobre o etnógrafo potiguar Câmara Cascudo). Se tudo der certo, a pessoa sai do espaço com vontade de ler, de aprender, de estudar.
E, considerando que o Brasil tem péssimos indicadores de leitura, é exatamente de mais museus da língua portuguesa que precisamos! O país está em 55º lugar em leitura no ranking da avaliação internacional Pisa, que analisa a qualidade da educação em 65 países. Teve queda nos indicadores de 2012 em relação ao ano de 2009. Só estamos piorando.
O museu em chamas estava fazendo bem o seu papel. Conseguiu, logo nos três primeiros anos de operação, 1,6 milhão de visitantes. É um recorde para um espaço como esses aqui no Brasil. Os bons números de visitação o colocaram no topo do ranking de visitações de museus brasileiros e latino-americanos.
É bem localizado, na área central da cidade, bem próximo à estação de metrô Luz. Bonito, atraente e com parte da sua programação gratuita –inclusive leitura de histórias aos finais de semana. É moderno e acessível também para os que não sabem ou não podem ler. E agora?
A perda é grande porque o Brasil tem poucos espaços como o que pegou
fogo. E, consequentemente, pouca gente frequenta museus. Para se ter uma
ideia, uma pesquisa divulgada em 2011 pelo Ministério de Ciência,
Tecnologia e Inovação mostrou que só 4% da população nacional diz que
visita espaços como museus de ciência, planetários, zoológicos ou
jardins botânicos. Quem não frequenta alega falta de dinheiro, de tempo
ou, simplesmente, falta de museus na sua região.
Na cidade de São Paulo, o índice de frequentadores de museus de
ciências e de espaços correlatos sobe para 18% e chega perto da média de
países desenvolvidos europeus (que é de 20%). Isso porque há mais
museus em São Paulo do que na média nacional.
É difícil que a recuperação do Museu da Língua Portuguesa –se for
possível– consiga espaço prioritário na agenda política e de recursos
públicos, que estão cada vez mais escassos. O Museu do Ipiranga, outro
clássico da cidade, foi fechado às pressas há dois anos e, sem incêndio
nem nada, deve ser reaberto após reforma somente em, atenção, 2022.
Agora imagine um museu que simplesmente pegou fogo? Pois é.
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