sábado, 3 de janeiro de 2015

Em Santo André (PB) Cariri de ouro: histórias de quem ignora o estigma da seca


 

Eles apostam na caprinocultura como uma das saídas possíveis para vencer a falta de chuvas própria do Semiárido. O resultado são empreendimentos inspiradores

O sonho do casal tem raízes fortes contrastando com a degradação típica dos solos do Cariri paraibano. Filhos de agricultores, ambos nasceram no município de Santo André. Ali viveram até a adolescência quando seus caminhos tiveram sentidos opostos. Ela foi para Campina Grande, onde estudou Direito; ele para o Rio de Janeiro, onde trabalhou sobretudo como pedreiro. Em 2010, no entanto, voltaram para a terra natal, ambos a passeio, e foi ali que se conheceram: na Festa do Bode na Rua, em Gurjão.
Darimagda e Ilton se conheceram na Festa do Bode na Rua, em Gurjão; casaram-se seis meses depois e hoje colecionam prêmios com caprinos (foto: Rizemberg Felipe)

O encontro de Darimagda e Ilton não foi à toa. Os dois já tinham o sonho, desde cedo, de trabalhar com cabras. Conheceram-se no local onde mais tarde iriam ganhar prêmios: hoje colecionam 13 conquistados na Festa do Bode na Rua. Dois em 2012, 10 em 2013 e um em 2014. Os prêmios foram conquistados pela qualidade das cabras: seja porque tinham a melhor cabra leiteira, seja pela melhor 'conformação de úbere' (ou seja, as tetas) da cabra.
 
Do encontro ao casamento passaram-se apenas seis meses. Ele voltou do Rio de Janeiro, ela deixou João Pessoa, onde, após concluir a faculdade em Campina Grande, passou a trabalhar como funcionária pública. De volta à terra natal resolveram investir tudo o que tinham em um grande sonho. 
 
A paisagem aparentemente hostil do Cariri não lhes fez desistir – pelo contrário. Tinham em si a força de vontade de mostrar ao mundo que era possível sobreviver no semiárido. É o famoso "tirar leite de pedra". Ou de cabra.
 
O rebanho começou com 15 cabras apenas para fornecer leite. As dificuldades para manter os animais e também para entregar o produto, no entanto, fizeram o casal inovar. Resolveram passar a produzir queijos artesanais, dos mais diversos sabores:
 
Tem queijo de vinho, de orégano, de pimenta e, também, de ervas próprias da região, como é o caso do camuru e do marmeleiro. Do sonho inicial, tornaram-se empreendedores, com muita inovação. Hoje, já têm 23 matrizes leiteiras (ou seja, que estão em período de lactação) e mais 17 cabritas no rebanho.
 
A rotina começa logo cedo: às 5h da madrugada. É hora de levantar, cuidar da ordenha dos animais, tomar um café que 'dê sustento' e começar a trabalhar. Ela fica responsável pela parte da higienização, ele produz os queijos. A ordenha diária rende até três litros por cabeça, durante sete meses. Atualmente, eles chegam a comercializar 90 quilos de queijo por mês ao preço de 30 reais o quilo. Com o leite ainda morno, a produção artesanal começa pela higienização, depois passa para a pasteurização e, em seguida, para o preparo da massa. Preparada, com seus devidos sabores, a massa é prensada, onde permanece cerca de 12 horas. Quando o casal participa de feiras ou de treinamentos e precisa acelerar a produção, são feitas duas 'levas' por dia. Uma de manhã logo cedo; outra no período da tarde.
 
Seus sonhos hoje extrapolam limites - assim como o orgulho pelo negócio que segue em andamento. "Nosso sonho hoje é que o produto seja cada vez mais reconhecido. E, quem sabe, até vender para outros estados do Brasil inteiro", diz Darimagda.
JORNAL DA PARAIBA
SR. CARIRI

Nenhum comentário:

Postar um comentário