Soa um tanto quanto estranho que a Igreja Católica participe oficialmente das comemorações dos 500 anos da Reforma
Não se trata de denegrir o episódio, mas de usar o termo tecnicamente
idôneo.
De fato, frei Martinho Lutero, um padre, membro da Ordem de Santo
Agostinho (instituição eclesiástica existente ainda hoje e bastante
atuante), o principal prócer da Reforma (revolução), não quis executar
somente mudanças acidentais, mas procedeu a alterações essenciais no
ensinamento católico, criando, destarte, nova religião, praticada hoje
em dia pelos evangélicos. Por exemplo, dos sete sacramentos
administrados pela Igreja, frei Lutero rejeitou todos, salvo o batismo –
que, mesmo assim, passou a ter interpretação diferente.
Ademais,
aprendemos na escola, nas aulas de História, que a Reforma (revolução)
também aboliu a doutrina da necessidade de boas obras para a salvação,
bem como centralizou a fonte da revelação divina unicamente na Bíblia,
recusando a Tradição como outra vertente da referida revelação.
Lutero não quis executar somente mudanças acidentais, mas fez alterações essenciais no ensinamento católico
Em tempos de ecumenismo, instaurado pelo Concílio Vaticano II
(1962-1965), não nos cabe guerrear contra as proposições da Reforma
(revolução), sintetizadas acima. Pelo contrário, temos de resgatar o que
une católicos e evangélicos, mormente a fé na divindade de Jesus Cristo
e a crença na Santíssima Trindade.
Desta feita, os cristãos, de um modo
geral, devem se unir em prol da construção de um mundo mais justo e
fraterno, onde haja vida abundante para todos (cf. Jo 10,10).
Sem embargo, soa um tanto quanto estranho que a Igreja Católica
participe oficialmente das comemorações dos 500 anos da Reforma – o
aniversário ocorre em 31 de outubro de 2017 –, haja vista os eventos
realizados na Suécia em 31 de outubro passado, que deverão prosseguir ao
largo de 2017. Mutatis mutandis, é como se os japoneses
resolvessem comemorar os bombardeios perpetrados contra Hiroshima e
Nagasaki. Que absurdo!
A Reforma (revolução) decerto caiu como bomba
sobre a Igreja, subtraindo da grei católica metade da Europa. Exatamente
em Lund, lugar da abertura das comemorações, as igrejas foram
destruídas, exceto a catedral, malgrado despojada das alfaias, para se
adequar ao uso reformado.
Nos dias que correm, graças a Deus, católicos e evangélicos caminham
juntos, irmanados em importantes projetos sociais. No Brasil, nunca
houve animosidade religiosa, como sói ocorrer em certos países. Porém,
cada segmento do cristianismo precisa valorizar sua especificidade
confessional, forjando, deste modo, saudável orgulho de ser católico ou
evangélico, em pleno respeito a quem pensa diferente ou professa
religião não cristã.
Edson Luiz Sampel,
doutor em Direito Canônico, membro da Sociedade Brasileira de Canonistas
(SBC) e da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp), é
professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo e autor de
“Católico até debaixo d’água”.
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