Escola de samba do Rio de Janeiro levará à Sapucaí em 2017 um enredo so desmatamento e a história do povo indígena
Samba-enredo da escola Imperatriz Leopoldinense, do Rio de Janeiro, fala sobre sofrimento dos índios e desmatamento, e está causando revolta do setor de agronegócios no Brasil |
O belo monstro roubas as terras dos seus filhos, devora as matas e seca os rios. Tanta riqueza que a cobiça destruiu. Sou o filho esquecido do mundo, minha cor é vermelho de dor, o meu canto é bravo e forte, mas, é hino de paz e amor", diz a letra do samba da Imperatriz Leopoldinense, que traz como enredo para o Carnaval 2017 a luta dos povos indígenas contra o desmatamento e a perda de terras. Apesar de ser um tema importante e bem conhecido, ele está gerando revolta de agricultores e pecuaristas no Brasil.
"A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu [ABCZ] repudia, com indignação e veemência o samba-enredo e as demais peças publicitárias divulgados pela escola Imperatriz Leopoldinense para o desfile de Carnaval de 2017. Ao criticar duramente o agronegócio, o grupo mostra total despreparo e ignorância quanto à história brasileira e à realidade econômica e social do país", diz, em nota oficial publicada em seu site, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. Além dela, outras instituições ligadas ao agronegócio também estão reclamando do enredo escolhido pela escola de samba carioca.
Uma das entidades que está encabeçando a reação contra a Imperatriz Leopoldinense é a Sociedade Rural Brasileira (SRB). "O objetivo da entidade é proteger o setor perante o público em caso de um ataque à imagem à atividade rural e aos proprietários de terra. A iniciativa, encabeçada por Gustavo Diniz Junqueira, presidente da SRB, deve evitar que mensagens equivocadas sobre o setor ganhem as ruas motivadas pelo enredo de uma escola de samba do Rio de Janeiro, que faz duras críticas ao agronegócio ao defender a cultura indígena e a luta por terras", afirma a SRB em publicação feita no Facebook. Quem também não gostou nada do enredo da escola de samba carioca é a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando e a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador.
Porém, apesar das reclamações provenientes das entidades que representam as diferentes áreas do agronegócio no Brasil, o carnavalesco da Imperatriz, Cahê Rodrigues, fez questão de justificar a escolha do tema e deixou claro que não se trata de uma agressão aos empresários ruralistas do país. "Quando a Imperatriz Leopoldinense decidiu levar para a avenida o enredo Xingu, o Clamor que Vem da Floresta, assumiu o desafio de apresentar muito mais que um desfile voltado à cultura e às tradições das etnias indígenas que ocupam o coração do Brasil. [...] Quando decidimos falar sobre o índio e, em especial, sobre a importância da reserva do Parque Indígena do Xingu, nosso objetivo não é outro senão fazer um alerta sobre os riscos que ainda ameaçam as 16 etnias que ali resistem e, indiretamente, muitas outras espalhadas pela Amazônia. [...] Nunca foi nossa intenção agredir o agronegócio, setor produtivo de nossa economia a quem respeitamos e valorizamos. Combatemos sim, em nosso enredo, o uso indevido do agrotóxico, que polui os rios, mata os peixes e coloca em risco a vida de seres humanos, sejam eles índios ou não, alem de trazer danos em alguns casos irreversíveis para nossa fauna e flora", esclarece Cahê por meio de publicação feita no Facebook.
O carnavalesco fez questão de usar como exemplo o enredo de 2016 que a Imperatriz levou para a avenida e que falava, justamente, sobre a vida rural brasileira – era uma homenagem à música sertaneja, em especial à dupla Zezé di Camargo e Luciano. "Para falar de sertanejos, também mostramos a lida do homem do campo e da importância da agropecuária do centro-oeste brasileiro no abastecimento de alimentos para a nossa população. A mão que revolve a terra é a mesma que ponteia a viola e traz à mesa os alimentos que garantem a nossa sobrevivência", diz Cahê Rodrigues no Facebook.
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