ruy castro
RIO DE JANEIRO - Amanhã, Sábado de Aleluia, é dia de malhação do judas. É
um rito secular, em que os católicos se vingam de Judas Iscariotes, o
apóstolo que, segundo os autos, entregou Cristo aos romanos e o levou à
crucificação. Judas é representado por um boneco recheado com trapos,
jornais ou serragem, arrastado pelas ruas, pendurado num poste, xingado,
cuspido, surrado pela multidão e, por fim, queimado. Mas não mais por
ser traidor. O judas moderno tornou-se apenas alguém que as grandes
massas estejam odiando. O ex-treinador Zagallo cansou de servir de
judas.
Ouço dizer que, nas últimas décadas, a malhação do judas declinou no
Brasil. Não por falta de judas a malhar, mas pela perda de fiéis entre
os católicos. Além disso, o valor pelo qual Judas vendeu Cristo – 30
dinheiros, a moeda da época – ficou insignificante. Em seu tempo, daria
para levar Maria Madalena para jantar à luz de velas no melhor
restaurante de frente para o mar Morto. Hoje não pagaria nem um
cafezinho na cadeia para Delcídio, Vaccari, Dirceu e outros guerreiros
do povo brasileiro.
Mas tradição é tradição e vice-versa, e quero crer que a conjuntura tem
oferecido motivos para que a malhação do judas volte amanhã ao seu
esplendor. Candidatos ao boneco abundam nas duas correntes em litígio.
A julgar pelas passeatas antipetistas, em que somente Lula e Dilma são
contemplados com pixulecos – os bonecos infláveis gigantes, agora também
em versão portátil –, são eles os únicos com potencial para surras (os
outros nomes do PT se volatizaram). Já os petistas, podendo escolher
entre FHC, Aécio Neves e Geraldo Alckmin como suas "bêtes noires",
certamente se concentrarão no juiz Sergio Moro.
As manifestações de rua têm sido comparadas por números. Talvez seja o
caso de, neste sábado, se fazer também a contagem dos judas.
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