quarta-feira, 16 de março de 2016

Ministro Lula?

Por Bernardo Guimarães

Os jornais de hoje noticiam a possível entrada de Lula no governo. A implicação para a economia seria uma guinada à esquerda. Será?
Será que Lula acredita em políticas “de esquerda” para a economia? Julgando pelo seu próprio discurso, claramente sim. Mas você acredita no que o Lula fala!?
Eu não. Mas aí precisamos olhar para os atos de Lula e checar se eles são consistentes com um Lula “esquerdista” ou com um Lula “oportunista”.
Duas possibilidades (há outras) são as seguintes:
1. Lula de fato acredita no que ele fala.
2. Lula é um político que quer poder. Os eleitores (e economistas) da esquerda o idolatram. Os outros eleitores o detestam. Problema: ele não acredita nas receitas de política econômica da esquerda. Como fazer? Ele tenta enganar todo mundo: fala para agradar a esquerda, mas quando está no poder, busca fugir dos economistas esquerdistas.
No primeiro cenário, Lula, ao ser eleito presidente em 2003, teria chamado para o Ministério da Fazenda um economista do PT, como Aloisio Mercadante, que havia sido eleito senador por São Paulo com a maior votação de um senador na história do país até então.
A política monetária em seu governo teria levado a juros muito baixos. A situação fiscal começaria a se deteriorar em 2003.
Como de fato ocorreu (principalmente em seu segundo mandato), o BNDES expandiria suas operações e o intervencionismo na economia aumentaria.
Reformas liberais não teriam espaço em seu governo. O Brasil cortaria relações com o FMI.
No segundo cenário, Lula, ao ser eleito presidente em 2003, chamaria para o Ministério da Fazenda um político do PT, que montaria sua equipe com economistas liberais. “O PT não pisa no ministério”, pensaria o ministro.
Para o Banco Central, Lula ultrapassaria os limites do imaginável e chamaria um banqueiro do PSDB, para mostrar ao mercado o compromisso com a inflação baixa. Se os juros fossem para a estratosfera, Lula não reclamaria.
Por outro lado, Lula buscaria agradar sua base dando cargos importantes (como o Ministério do Planejamento, a presidência do BNDES) para pessoas ligadas ao PT e à esquerda. Politicamente, jamais seria possível deixar todo o comando da economia nas mãos de quem não vota nele.
Seu governo começaria com reforma da previdência, teria reformas liberais na área do crédito. Mas também teria políticas intervencionistas, incluindo a expansão do BNDES.
Isso tudo só seria possível se ele tivesse muita força no partido. Se acaso ele precisasse de mais apoio de sua base (por exemplo, se explodisse algum escândalo de corrupção como o mensalão), ele teria que ceder para buscar apoio.
Sem muita convicção sobre política econômica, não se importaria com a guinada à esquerda no segundo mandato de seu governo. Mas ao perceber o estrago que sua sucessora estava fazendo na economia, já em 2012, sugeriria uma mudança no ministério. “Que tal substituir Mantega por Meirelles?”, ele diria à presidente.
Ainda assim, seu discurso não poderia se afastar de quem o apóia.
Os economistas de esquerda continuariam mantendo as aparências. Andariam de braços dados com Lula à luz do dia. Seria muito humilhante constatar que o idolatrado político prefere a companhia do banqueiro.
Nesse segundo cenário, Lula se voltaria à esquerda quando precisasse de apoio político, mas fugiria da esquerda quando tivesse condições.
O resultado seria uma espécie de populismo calculado. E a discussão de política econômica no Brasil ultrapassaria os limites do surrealismo.

No contexto de março de 2016, o objetivo de Lula é escapar da justiça e segurar o PT no governo. Então, a política econômica está a serviço da política.
Normalmente, nesses casos, opta-se por distribuir dinheiro e por medidas populistas.
Mas se o governo não cair, Lula durar mais tempo no ministério e se fortalecer politicamente, suas preferências afetarão a política econômica.
O Lula do primeiro cenário conduziria a política econômica mais para a esquerda.
O Lula do segundo cenário daria uma no cravo e outra na ferradura: tentaria articular para aprovar medidas de ajuste fiscal (incluindo a reforma da previdência) mas também proporia medidas populistas que agradariam a esquerda e ocupariam as manchetes dos jornais.
Poderia até funcionar. E por um lado, isso é bom, seria ótimo ver a confiança na economia voltar e o desemprego se reduzir.
Mas para o médio e o longo prazo, isso é muito menos importante do que tudo o mais que está em jogo.
Eu não aguento mais o mundo de mentira no qual o PT se apoia. Um mundo onde a maior manifestação política da história do Brasil não passa de atos isolados e fabricados.
Não aguento mais ouvir os ventríloquos petistas reverberarem mensagens de líderes desonestos que inventam uma luta de classes para justificar a corrupção e a incompetência.
No momento, o Brasil grita contra a desonestidade na política. Eu me junto ao protesto bradando contra a desonestidade intelectual.

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