sábado, 3 de novembro de 2018

A televisão no governo Bolsonaro: o que esperar

Mauricio Stycer
A eleição de Jair Bolsonaro, por tudo que representa em termos de mudança na política brasileira, traz junto a expectativa de muitas novidades nos mais variados campos. Ainda que não tenha sido um assunto muito discutido na campanha eleitoral, a televisão certamente será afetada pela chegada ao poder de um grupo político sem vínculos com os partidos (PSDB e PT) que ocuparam o Planalto nos últimos 24 anos.
Na sua primeira entrevista, o presidente eleito anunciou a intenção de "privatizar ou extinguir" a TV Brasil, criada em 2007 no segundo governo Lula. Bolsonaro mencionou que o canal "tem traço de audiência" e disse que ele tem um custo anual de R$ 1 bilhão. O tema é importante e espero que mereça uma análise cuidadosa, que vá além deste comentário, no novo governo.
O papel que a TV Record terá num governo Bolsonaro também é motivo de especulação. Nesta mesma entrevista, o próximo presidente do país elogiou "o jornalismo isento" da emissora, uma deferência que não fez a nenhum outro canal. Ainda que tenha se beneficiado de acesso privilegiado a Bolsonaro, a Record está preocupada em ficar com a imagem de "TV oficial". Em nota, rejeitou as críticas e afirmou: "Não aceitamos os ataques covardes à nossa conduta pautada numa só direção: jornalismo imparcial a serviço dos brasileiros".
A pauta conservadora defendida por Bolsonaro durante a campanha, em defesa "da família brasileira, que tanto clama para que seus valores sejam respeitados", terá efeitos sobre a programação de TV? Esta é uma questão interessante, a ser observada de perto. Um primeiro sinal de alerta foi aceso na estreia da 11ª temporada de "Amor & Sexo". O programa da Globo está registrando os seus números de audiência mais baixos. Está ocorrendo boicote ou é sinal de uma fórmula cansada?
Outro assunto importante, entre tantos, é o da regulamentação dos serviços de vídeo por demanda, ou streaming (Netflix). Há possibilidade de a questão ganhar uma primeira legislação ainda neste final do governo Temer, mas seguramente terá que ser enfrentado pelo próximo presidente. Temas como a obrigação, ou não, de cotas para a produção brasileira, tal como existe na TV paga, deverão ser discutidos proximamente.

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