terça-feira, 24 de maio de 2016

Raiva!


Professor Edson Tavares


Às vezes eu tenho raiva. Feito Álvaro de Campos, raiva que espuma, maior que “a imensidão que não cabe no meu lenço”. Raiva do invólucro das emoções, que me impedem de perceber, de imediato, a real intenção das pessoas, seu verdadeiro objetivo.
E como é imenso o inconformismo com o que vejo! “A imensidade imensa do mar imenso” é ínfima ante o gigantismo desse sentimento que me invade. Não suporto esse comportamento dúbio dos humanos, que pensam uma coisa e fazem outra, que agem de acordo com suas conveniências, em detrimento da sensatez e sem levar em conta o quanto esse comportar-se é nocivo aos outros.
A raiva cresce-me, amplia-se. Vira ódio.



 “Ódio fecundo” como o de Mário de Andrade pelo burguês. Aliás, a maior parte das atitudes mesquinhas, que deterioram o mundo e provocam minha sagrada ira, tem seu nascedouro no princípio burguês de vida. Mesmo que tais atitudes venham de gente miserável, que, em sua miséria, fazem par com o ideário da burguesia podre e fedida. Se de um lado temos cobra engolindo cobra, do outro, minhocas se autofagiam.



Tenho, como Campos, uma ânsia-agonia, uma gana de passar por cima de todos, esmigalhá-los, com toda a força do meu ódio descomunal, “porque quando quero passar sou Deus”, varrendo para as labaredas do inferno todo esse lixo que insiste em desrespeitar minhas narinas habituadas ao fresco perfume da manhã orvalhada. Ah, “que nenhum filho da puta se me atravesse no caminho”, que lhes “meto esporas”, nessa “loucura furiosa, vontade de ganir, de saltar, de urrar, zurrar, dar pulos, pinotes, gritos com o corpo”. 



E toda minha fúria se derrama, fétido fel a azedar quem me irrita, àqueles que, apesar de tudo, querem-me presente e hipócrita, social, “fútil, cotidiano e tributável”. Exigem-me que tinja os fios maduros de meus cabelos e finja ser um deles, mesmo que meu interior estremeça e se despedace no mais profundo asco por essa gente ignóbil, mesquinha, vil.



Ah, “vão para o diabo sem mim, ou deixem-me ir sozinho ao diabo! Para que havemos de ir juntos?”
Em outras palavras: vão se foder!!!


Parceiro Sr. CARIRI

Nenhum comentário:

Postar um comentário