Notável descoberta: sou IMPERFEITO! Na verdade, descoberta da minha coragem em assumir minha imperfeição. Enquanto tantos por aí fazem das tripas coração, correm mundos e fundos para provar para si mesmos e para os outros que são perfeitos, “príncipes”, “campeões em tudo” na vida, eu, junto com o irônico Álvaro de Campos, nos descobrimos, nos assumimos simplesmente imperfeitos, simplesmente gente.
Que mórbida
necessidade de provar a todos o melhor que achamos ser necessário para
que nos aceitem. Se depende da conformidade entre o que aparento e o que
os outros esperam que eu seja, para ser aceito, sem reservas, pela
sociedade, então está posto: escarro nessa convencionalidade idiota,
mando-os todos às putas que os pariu, e sigo na minha imperfeição, lado a
lado com Campos, também ele imperfeito, também ele insatisfeito de ter
que demonstrar o que não é, para ser admitido no Hipocrisia Social
Futebol Clube.
De fato, tenho pena dessa gente que finge (não no
sentido pessoano de fingimento, sentido de construção estética, mas como
obsessiva mania de mostrar-se o que não é) finge ser aquele que não
erra jamais, que sempre sabe de tudo, que esgotou sua capacidade de
aprender.
E nós, Álvaro, nós “tantas vezes reles”, porcos, vis,
sujos, impacientes, ridículos, absurdos, grotescos, mesquinhos,
submissos e arrogantes, nós verificamos que não temos par neste mundo de
perfeição, que não cabemos, não nos encaixamos na lógica louca dessa
sociedade em sua essência reles, porca, vil, suja, impaciente, ridícula,
absurda, grotesca, mesquinha, submissa e arrogante, mas perfeita, grau
máximo de excelência, em seu verniz aparente.
E o pior de tudo,
caro Álvaro de Campos, é a insistência com que nos querem cotidianos,
fúteis e tributáveis, para que, assim, possamos alimentar a empáfia
social com nosso “talento”, nossa presença, nossa voz. Ao diabo, todos!
Ao diabo sem nós, ou deixem-nos ir sozinhos ao diabo! “Para que havemos
de ir juntos?” Se não nos aceitam como somos, se para que possamos
assinar o livro de ouro das presenças sociais, precisamos ser, como os
outros, fingidores baratos do que não somos; se não admitem a emersão da
essência do que somos; se nos tolhem a sagrada liberdade de mostrar-nos
como de fato somos; então por que nos querem nesse reduto de falsidade e
fingimento?
Casamentos, velórios, aniversários,
confraternizações... eu, que “hoje não faço anos, duro”, odeio esses
ridículos momentos de vitrine humana, em que, por trás de cada sorriso,
cada elogio, cada abraço ou beijo, esconde-se, ignóbil, a cárie, a
acusação, a pedra ou o escarro. E me pego pensando como Augusto dos
Anjos (bons e maus) “apedreja nessa mão vil que te afaga; escarra nessa
boca que te beija”. E digo NÃO!
E não atendo aos convites que recebo, e
suporto (resignado, mas feliz) as alcunhas de antissocial, orgulhoso,
casmurro (não no sentido do dicionário, mas, como diz Machado, “para
atribuir-me fumos de fidalgo”).
Diante dessa palhaçada toda, eu
só rio (ou sorrio), complacente, e me junto à ironia ferina de Álvaro de
Campos para clamar por “gente no mundo”, pois que estamos fartos de
semideuses, e na nossa “inferioridade” sincera, cuspimos na
“superioridade” de espuma dessa gente. E saímos de baixo, para que o
cuspe não nos volte na cara!
Parceiro- Sr. CARIRI
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