quinta-feira, 12 de maio de 2016

PROFESSOR EDSON TAVARES


 


Notável descoberta: sou IMPERFEITO! Na verdade, descoberta da minha coragem em assumir minha imperfeição. Enquanto tantos por aí fazem das tripas coração, correm mundos e fundos para provar para si mesmos e para os outros que são perfeitos, “príncipes”, “campeões em tudo” na vida, eu, junto com o irônico Álvaro de Campos, nos descobrimos, nos assumimos simplesmente imperfeitos, simplesmente gente.
Que mórbida necessidade de provar a todos o melhor que achamos ser necessário para que nos aceitem. Se depende da conformidade entre o que aparento e o que os outros esperam que eu seja, para ser aceito, sem reservas, pela sociedade, então está posto: escarro nessa convencionalidade idiota, mando-os todos às putas que os pariu, e sigo na minha imperfeição, lado a lado com Campos, também ele imperfeito, também ele insatisfeito de ter que demonstrar o que não é, para ser admitido no Hipocrisia Social Futebol Clube.

De fato, tenho pena dessa gente que finge (não no sentido pessoano de fingimento, sentido de construção estética, mas como obsessiva mania de mostrar-se o que não é) finge ser aquele que não erra jamais, que sempre sabe de tudo, que esgotou sua capacidade de aprender.

E nós, Álvaro, nós “tantas vezes reles”, porcos, vis, sujos, impacientes, ridículos, absurdos, grotescos, mesquinhos, submissos e arrogantes, nós verificamos que não temos par neste mundo de perfeição, que não cabemos, não nos encaixamos na lógica louca dessa sociedade em sua essência reles, porca, vil, suja, impaciente, ridícula, absurda, grotesca, mesquinha, submissa e arrogante, mas perfeita, grau máximo de excelência, em seu verniz aparente.

E o pior de tudo, caro Álvaro de Campos, é a insistência com que nos querem cotidianos, fúteis e tributáveis, para que, assim, possamos alimentar a empáfia social com nosso “talento”, nossa presença, nossa voz. Ao diabo, todos! Ao diabo sem nós, ou deixem-nos ir sozinhos ao diabo! “Para que havemos de ir juntos?” Se não nos aceitam como somos, se para que possamos assinar o livro de ouro das presenças sociais, precisamos ser, como os outros, fingidores baratos do que não somos; se não admitem a emersão da essência do que somos; se nos tolhem a sagrada liberdade de mostrar-nos como de fato somos; então por que nos querem nesse reduto de falsidade e fingimento?

Casamentos, velórios, aniversários, confraternizações... eu, que “hoje não faço anos, duro”, odeio esses ridículos momentos de vitrine humana, em que, por trás de cada sorriso, cada elogio, cada abraço ou beijo, esconde-se, ignóbil, a cárie, a acusação, a pedra ou o escarro. E me pego pensando como Augusto dos Anjos (bons e maus) “apedreja nessa mão vil que te afaga; escarra nessa boca que te beija”. E digo NÃO! 

E não atendo aos convites que recebo, e suporto (resignado, mas feliz) as alcunhas de antissocial, orgulhoso, casmurro (não no sentido do dicionário, mas, como diz Machado, “para atribuir-me fumos de fidalgo”).
Diante dessa palhaçada toda, eu só rio (ou sorrio), complacente, e me junto à ironia ferina de Álvaro de Campos para clamar por “gente no mundo”, pois que estamos fartos de semideuses, e na nossa “inferioridade” sincera, cuspimos na “superioridade” de espuma dessa gente. E saímos de baixo, para que o cuspe não nos volte na cara!

Parceiro- Sr. CARIRI

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