sábado, 28 de abril de 2018

ARTIGO DE UM FILHO IV

Samuel

                NOVE ANOS SEM PAPAI
        UM ORIGINAL SAMUEL SALGADO 
Sr. Dioclécio

É madrugada. As horas se arrastam lentamente... na mansidão da quietude, a saudade me leva a viagens imaginárias, despertando sentimentos vividos. Viajo no tempo sem ter pressa de ir ou de voltar. Vou caminhando até aonde o pensamento me levar. Neste caminhar, as lembranças manifestamse de maneira simples, constituindo o fardo ou a leveza que carrego comigo... Sempre! Vou dando vida ao passado, tornando-o parte do presente. Há momentos em que o tempo parece parar... sou assim... não mudo... ano de 2001. Oito de setembro! Era um sábado! Ao anoitecer daquele dia, papai despediuse da vida, aos 77 anos, depois de 18 dias de luta contra um infarto, num leito do Hospital Oswaldo Cruz, no Recife. Essa data ficou definitivamente marcada na minha memória. O tempo, na sua cronologia irreversível continua a girar. Hoje, em outra dimensão ele se abriga no meu existir. 

Lá se vai mais um ano de saudade... Sutilmente vem aquela sensação de nó na garganta. Pois é! Por mais que entenda que a morte é inevitável, não consigo ficar imune a este sentimento. Apenas sei que ela se resume numa passagem de um mundo bem conhecido, para outro de um mistério insondável que estabelece uma separação definitiva. Não tem jeito, um dia vou encontrá-la. Fazer o que? Diante dela, só a revolta. Por isso, amedronta e traz dor... Dor que maltrata... esse tipo de dor nunca passa. Procuro abrandá-la. Não permito que se instale a angústia com a vida. Aprendi a caminhar com ela. Faz parte. Portanto, viver é tão fascinante, quanto assustador. Assim é a vida... 

SAMUEL SALGADO 
Setembro de 2010

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