Samuel |
NOVE ANOS SEM PAPAI
UM ORIGINAL SAMUEL SALGADO
Sr. Dioclécio |
É madrugada. As horas se arrastam
lentamente... na mansidão da
quietude, a saudade me leva a viagens
imaginárias, despertando sentimentos
vividos. Viajo no tempo sem ter pressa
de ir ou de voltar. Vou caminhando até
aonde o pensamento me levar. Neste
caminhar, as lembranças manifestamse
de maneira simples, constituindo o
fardo ou a leveza que carrego
comigo... Sempre! Vou dando vida ao
passado, tornando-o parte do
presente. Há momentos em que o
tempo parece parar... sou assim... não
mudo... ano de 2001. Oito de
setembro! Era um sábado! Ao
anoitecer daquele dia, papai despediuse
da vida, aos 77 anos, depois de 18
dias de luta contra um infarto, num leito do Hospital Oswaldo Cruz, no Recife.
Essa data ficou definitivamente marcada na minha memória. O tempo, na sua
cronologia irreversível continua a girar. Hoje, em outra dimensão ele se abriga
no meu existir.
Lá se vai mais um ano de saudade... Sutilmente vem aquela sensação de nó na
garganta. Pois é! Por mais que entenda que a morte é inevitável, não consigo
ficar imune a este sentimento. Apenas sei que ela se resume numa passagem de
um mundo bem conhecido, para outro de um mistério insondável que estabelece
uma separação definitiva. Não tem jeito, um dia vou encontrá-la. Fazer o que?
Diante dela, só a revolta. Por isso, amedronta e traz dor... Dor que maltrata...
esse tipo de dor nunca passa. Procuro abrandá-la. Não permito que se instale a
angústia com a vida. Aprendi a caminhar com ela. Faz parte. Portanto, viver é
tão fascinante, quanto assustador. Assim é a vida...
SAMUEL SALGADO
Setembro de 2010
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