Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil
Serão destinados
RS 17,3 milhões para a implantação de 3.588 cisternas para captação e
armazenamento de água nos estados de Alagoas, da Bahia, do Ceará, de
Minas Gerais, da Paraíba, do Piauí, de Pernambuco, do Rio Grande do
Norte e de Sergipe.
A fundação firmou convênio com a Articulação
do Semiárido (ASA), rede formada por mais de 3 mil organizações da
sociedade civil, que será responsável pela identificação e mobilização
dos beneficiados, além da construção dos reservatórios e da assessoria
técnica.
As novas cisternas serão divididas em dois tipos: 3.198
voltadas para o consumo básico, que é água de beber, conhecidas como
Cisternas de Placas; e 390 relacionadas à produção de alimentos e à
criação de pequenos animais, chamadas de Cisterna Enxurrada e Calçadão.
Nos
últimos quatro anos, a FBB já implantou 80 mil unidades de consumo
básico e 12 mil de produção, em parceria com a ASA, correspondendo a
investimento total de R$ 327 milhões, que beneficiou 350 mil pessoas.
“Estudos sobre os impactos positivos gerados por essa tecnologia social
indicaram a redução na incidência de doenças e o aumento na frequência
escolar entre crianças e jovens”, informou a fundação.
Família beneficiada
Dona
Lia diz que a cisterna permitiu que seus filhos conseguissem renda a
partir da plantação no próprio sítio em que vivem - Foto
O
sítio da família Silva Oliveira, localizado na cidade de Esperança,
zona rural da Paraíba, foi um dos beneficiados pelo projeto de
cisternas. Dona Lia e seu Miguel Antônio tiveram oito filhos, que foram
migrando para a cidade em busca de renda e sustento. A cisterna, além de
garantir água para beber e cozinhar, possibilitou que seus filhos
conseguissem renda a partir da plantação no próprio sítio.
Hoje,
Delfino, 23 anos, um dos filhos do casal, fincou raízes na zona rural,
onde se casou e pretende continuar vivendo. Mas nem sempre foi assim,
contou o rapaz. “A gente nasceu e se criou aqui. Alguns dos meus irmãos
foram para a cidade, eu também queria ir para a cidade, meu pensamento
era esse. Com o passar do tempo, quando completei a idade, eu disse
'não, agora chegou a minha vez, eu vou para a cidade que lá é onde vou
ganhar o meu pão'”.
Os jovens da zona rural acabam saindo de suas
casas pela falta de trabalho, imposta pela seca que assola a região.
“Não tinha incentivo, como eu ia ficar no sítio?”, disse Delfino. Após
ter acesso a projetos sociais, como o da FBB, Delfino enxergou uma
oportunidade no sítio. Primeiro, a família conseguiu uma caixa d'água,
depois a irrigação por gotejamento e finalmente a cisterna, que
possibilitou melhor produção de legumes, verduras e hortaliças.
Atualmente, a família vende essa produção em uma feira da cidade.
“Eu
e meu irmão estamos incentivados, a gente vai ficar no sítio. Essa casa
aqui [construída para ele e a mulher] já é fruto da feirinha, já
consegui construir. É pequena, mas dá para morar. No futuro, eu cresço.
Esse carro aqui já foi fruto de renda”, comemorou o rapaz.
Perspectiva no semiárido
Dona
Lia, 54 anos, contou como levava água para casa antes da construção da
cisterna no sítio. “[Trazia] no carrinho de mão, nos baldes ou então na
cabeça. Era longe que a gente pegava água [a uma distância de 1 km]. Era
água para tudo, era para tomar banho, para beber, para cozinhar. E
agora, com essa água para beber, da cisterna de 16 mil litros, a gente
tem água boa, água limpa, não é mais água de barreiro”, disse.
Depois
de ver cinco de seus filhos migrando para a cidade, que ela chama de
“rua”, dona Lia disse estar feliz com a decisão de Delfino e de mais
dois filhos, de permanecer na área rural. “Ele falava sempre de arrumar
um emprego na rua, que também não dava [para ficar] no sítio, mas agora
ele não quer mais viver em rua”.
Ela comemora também a renda
própria e sua individualidade. “Eu faço polpa de fruta, as frutas eu
aproveito tudo, para vender e para a gente consumir. Graças a Deus,
tenho minhas plantinhas, arrumo meu dinheirinho”, disse. Segundo dona
Lia, sem a cisterna não tinha condição de plantar: “não plantava porque
não ia carregar água na cabeça para aguar [as plantas]. Mas, por toda a
vida eu sempre fui apaixonada por flor e agora consigo vender”.
Tecnologia social
As
Cisternas de Placas foram certificadas como tecnologia social em 2001
pela FBB, com a finalidade de captar e armazenar água de chuva. Para o
consumo das famílias, o sistema permite o acúmulo de até 16 mil litros,
que atende às necessidades de uma família de cinco pessoas pelo período
de até oito meses. O equipamento é composto por encanamento simples para
recolher água da chuva nos telhados das casas e por um reservatório no
subsolo, revestido com placas.
Para as atividades produtivas, as
cisternas são de dois modelos: Calçadão e Enxurrada, que são construídas
perto das residências. As duas têm capacidade para 52 mil litros de
água. A diferença é que a Enxurrada é instalada no caminho por onde
passa o fluxo pluvial e a Calçadão capta de áreas em declive.
Edição: Graça Adjuto
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