A construção de uma réplica do templo de Salomão em São Paulo pela IURD é uma boa oportunidade para refletirmos sobre a atual situação do pentecostalismo e da Igreja Evangélica como um todo no Brasil.
Primeiramente é importante destacar que a IURD, pelo menos conforme afirma em seu próprio site¹, não tem a pretensão de que esse seja o terceiro templo de Israel – nem poderia, pois são tantas as implicações teológicas que a ideia seria absurda. A mais simples delas repousa no fato de que o templo deverá ser reconstruído em Jerusalém e não por aqui. Nesse sentido há certo exagero por parte dos críticos – tenho até conversado com pessoas que agora (depois da construção) não tem mais dúvidas de que Edir Macedo seja o anticristo! Mas essa é outra história.
Conhecemos também a ferrenha disputa que Macedo tem travado contra a Igreja Católica Apostólica Romana, e isso obviamente serve como parte de sua motivação para a tal obra. A construção tem tom de provocação, à medida que afirmam que o templo tem “dimensões que superam as de um campo de futebol oficial e as do maior templo da Igreja Católica da cidade de São Paulo, a Catedral da Sé”.
Embora não afirme em seu site, também a de se imaginar que o Bispo Macedo queira deixar a construção como símbolo de suas conquistas para as gerações futuras. É, portanto uma espécie de legado do Bispo.
A construção, a meu ver, ganha sentido negativo porque é emblemática dos exageros da Igreja Universal (e das Igrejas neopentecostais) no que tange a arrecadação de dinheiro. Há uma clara conotação nas propagandas da IURD de que o templo é um lugar mais santo do que outros e que os sacrifícios financeiros ali adquirem maior resultado por se tratar do templo de Salomão – aí não a esforço algum de esclarecer ao público que o templo nada mais é do que um local de culto e que por mais bonito e imponente que seja não tem poder espiritual algum. Tampouco esclarecem aos fiéis que “Deus não habita em templos construídos por mãos humanas²” e que no evangelho neotestamentario as pessoas são o templo e não mais o local de culto. Divulgam uma forma de adoração baseada no Velho Testamento e atropelam o significado de Igreja no Novo Testamento – tudo por causa do dinheiro.
Noutro sentido a Universal demonstra demasiada pretensão quando diz que a construção “não se trata de um projeto denominacional, muito menos pessoal, mas algo tão glorioso, do ponto de vista espiritual, que transcende a própria razão”. E que “certamente, despertará a fé adormecida dos frios ou mornos e os arremeterá a um avivamento nacional e, em seguida, mundial”. À bem da verdade, se templo imponente fosse sinal de transformação espiritual, a Igreja Católica não estaria na situação triste em que se encontra ao redor do mundo – com templos católicos inclusive sendo transformados em boates. Aliás, dificilmente alguém poderá reproduzir uma obra tão majestosa como os afrescos de Michelangelo na capela sistina em Roma e nem mesmo essas obras tem ajudado espiritualmente os fiéis.
Por último, conforme afirmam no site “Estamos tratando o prédio como um grande monumento”. Ora, os monumentos são representações simbólicas, e se fosse essa a intenção deveriam cobrar a entrada apenas como numa espécie de museu e não se aproveitar dessa representação tão especial, tanto para judeus quanto cristãos, símbolo das profecias bíblicas nos últimos dias, como um pseudo-lugar santo com fins primariamente financeiros. De certa forma é uma profanação de algo santo, pois as intenções não são puras como afirma o Bispo que o desejo de construir o templo nasceu em Israel com o intuito de levar um pedaço da terra santa ao povo. Ironicamente (ou não) numa linguagem espiritual o templo utilizado de forma ilícita à luz da palavra está em conformidade com as profecias de Daniel citadas por Jesus a respeito da abominação da desolação no templo³ . Infelizmente ao que parece o monumento – irrelevante do ponto de vista de transformação espiritual das pessoas – será usado pela Universal a favor de Mamom(4) .
Igreja AD Central
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