domingo, 24 de agosto de 2025

ELIAS DE OLIVEIRA LIMA — O HOMEM DOS NEGÓCIOS DA CHINA E MAIOR COMERCIANTE DO BRASIL

 

Elias de Oliveira Lima foi um dos maiores comerciantes da história do Brasil. Visionário e ousado, tornou-se o primeiro brasileiro a negociar oficialmente com a China antes mesmo do reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, no governo do líder comunista Mao Tsé-Tung, no início da década de 1970. Muito antes dessa reaproximação política, Elias já realizava negócios pioneiros com os chineses, o que lhe garantiu destaque em revistas como Manchete e Fatos e Fotos, além da Folha de S.Paulo e das famosas Páginas Amarelas da revista Veja.

Proprietário de um armazém que levava seu nome, localizado no centro de Caruaru, Elias recordava com emoção suas primeiras transações com os países da chamada “Cortina de Ferro”. Em 1954, importou 5 mil rolos de arame farpado da Polônia por cerca de 120 mil dólares em valores atuais. Posteriormente, comprou ferramentas, aparelhos de raios X e máquinas de datilografia da Tchecoslováquia.

Em 1967, passou cinco dias em Moscou, mas não conseguiu fechar nenhum negócio. Com seu jeito direto, definiu os comerciantes soviéticos como “complicados” e desprovidos de “qualquer sentido prático”.

Três anos depois, iniciou um longo e difícil diálogo com empresários chineses. Contou com a ajuda de um amigo brasileiro em Hong Kong, trocou mais de cem cartas e, após um ano de persistência, fechou em novembro de 1971 sua primeira transação com a estatal Group Resources Co., no valor de 240 mil dólares em valores atuais. Com autorização da CACEX, passou a importar metais e produtos químicos diretamente de Pequim, orgulhando-se de ter ajudado a “romper fronteiras ideológicas” no comércio internacional.

A trajetória desse nordestino obstinado — “diplomado pela Universidade da Vida”, como gostava de dizer — daria um romance. Nascido no povoado de Cachoeira da Onça, próximo a Caruaru, Elias, desde cedo, tinha o hábito de buscar contatos com grandes empresas estrangeiras, cujos endereços encontrava em revistas e almanaques.

Antes do sucesso, trabalhou como auxiliar de comércio no Recife por dois anos, recebendo 30 mil réis mensais. Movido pelo espírito aventureiro, embarcou como taifeiro no navio Itamaracá, da frota Henrique Lage, durante três meses. No Rio de Janeiro, foi cobrador de bonde e condutor de ônibus na Ilha do Governador. Nessa época, assistiu a um espetáculo lírico no Teatro João Caetano e desenvolveu um amor pela música, paixão que manteve por toda a vida.

Em 1938, retornou a Caruaru e abriu um armazém na Rua 7 de Setembro, nº 83, no centro, atrás da Igreja da Conceição. Quatro anos antes, já havia feito uma importação da Alemanha: cem máquinas de costura, vendidas a 12 contos de réis cada — sua primeira experiência como grande importador.

No armazém, vendia de tudo: de geladeiras a querosene, bolas de plástico, ferramentas, encerados e material de construção. Em plena Segunda Guerra, importou um caminhão dos Estados Unidos “apenas para não perder o costume”, como dizia. No pós-guerra, diversificou fornecedores: bicicletas da Inglaterra, azeite de Portugal, chapas de metal dos Estados Unidos, cominho da Espanha e arames da França, Alemanha e Japão — sempre fechando negócios por telefone ou correspondência.

A partir de 1942, sua rotina passou a ser praticamente comandada pelo telefone. Começava o dia entre 3h e 4h da manhã, ouvindo música clássica e lendo. Podia estar em Caruaru hoje e desembarcar em São Paulo no dia seguinte, onde mantinha um escritório na Avenida Vieira de Carvalho. Tinha representantes nas principais capitais brasileiras e escritórios em Londres, Paris, Bucareste, Nova Iorque, Hamburgo e Tóquio.

Com frases espirituosas e filosofia própria, dizia que três coisas podiam embriagar um homem: “a mulher, a música e o perfume”. Valorizava a saúde como fator essencial para o sucesso e preferia afirmar que não dava esmolas, mas ajudava seus semelhantes. Sua facilidade em fazer amigos e sua prontidão em responder a piadas lhe renderam o apelido de “Embaixador de Caruaru”. Entre seus amigos mais influentes estavam os presidentes Juscelino Kubitschek e João Batista Figueiredo, além dos governadores Cordeiro de Farias e Miguel Arraes de Alencar. Da música, recebeu visitas ilustres em sua residência, entre eles Caubi Peixoto, Dalva de Oliveira e Luiz Gonzaga.

Elias costumava afirmar: “Tudo o que faço é por Caruaru. Tenho certeza de que, um dia, Caruaru será sede da ONU”.

Elias de Oliveira Lima faleceu em 24 de agosto de 1981. Seu legado permanece vivo por meio do filho, Dr. Edson de Oliveira Lima, médico e também comerciante na cidade, que mantém os princípios e a visão empreendedora do pai.


Fotos: arquivos sociais
Fotos: arquivos sociais
Fotos: arquivos sociais
Parceiro jornalista Tavares Neto 



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