domingo, 27 de dezembro de 2020

UM POEMA DE MAIS UM SÉCULO TEM SEMELHANÇA HODIERNA

Memorial Augusto dos Anjos, na Paraíba


Publicado pela primeira vez em 1912, o livro do poeta paraibano Augusto dos Anjos, traz em uma de suas poesias, o que hoje ocorre com a humanidade em tempos de pandemia, a aflição do mundo.

Por certo ele viveu em época de alguma doença contagiosa que acometeu os povos. 

Confira então:

A PESTE

Filha da rainha de Jeová - a Peste

N'um insano ceifar que aterra e espanta,

De espaço a espaço sepulturas planta

E em cada coração planta um cipreste!


Exulta o eterno e... tudo chora, tudo!

Quando ela passa, semeando a Morte,

Todos dizem co'os olhos para a Sorte

- É o castigo de Deus que passa mudo!


- Fulgido foco de escaldantes brasas

- O sol a segue, e a Peste ri-se, enquanto

Vai devastando o coração das casas...


E como o sol que a segue e deixa um rastro

De luz em tudo, ela, como o sol - o astro -

Deixa um rastro de luto em cada canto!


Augusto dos Anjos publicou vários poemas numa única obra intitulada “Eu” (1912).

Os poemas do livro Eu, mostram uma experiência literária única na história da literatura universal, pois ousaram unir o Simbolismo com o cientificismo naturalista. Os versos do poeta chocam pelo vocabulário e pela temática controversa, sobretudo para a época em que foram escritos, fato que provocou certa repulsa do público à única obra de Anjos. Ainda hoje os versos pré-modernos causam estranhamento, assim como despertam o interesse e curiosidade de novos leitores e estudiosos da obra inigualável do poeta.



Sr. CARIRI






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